Algumas previsões são feitas não na esperança de que se realizem, e sim para evitar que se concretizem. Traçando um minucioso e severo diagnóstico sobre os rumos da política da nossa cidade, chega-se à constatação, e a posteriori à conclusão, que a contingência nunca exerceu um papel tão fundamental sobre o nosso futuro.
Depois de um semestre de algumas escolhas assertivas, o governo que cresceu através de promessas messiânicas e um saudosismo populista, desperta em fim da sua letargia. Além das atribuições que lhe compelem a atual gestão ainda tem que se preocupar com os corpos estranhos que carcomem internamente o seu organismo. Em outras palavras, além de gerir a máquina pública com lisura e probidade, além de satisfazer os anelos do seu eleitorado, o gestor ainda precisa encontrar uma estratégia para não se tornar vítima dos detratores.
A ruptura eminente entre o Executivo e os seus acólitos, apenas corrobora que os pactos fazem-se e desfazem-se consoante as conveniências. Isso mostra que as conspirações, confabulações que a nossa cidade tem se tornado palco, é causa e não efeito dessa relação fugaz. Enquanto furtivamente os conciliábulos prosseguem, o vácuo formado por essa anomia política ensejará o surgimento ou o retorno de personagens grotescos e caricaturais. Neste medida, negligenciar a nossa responsabilidade nos fará retroagir.
Corremos o risco de voltar a um período em que a falta de respeito com o dinheiro do contribuinte era um imperativo categórico. Figuras pitorescas e estereotipadas pelo imaginário coletivo farão uso do “populismo fisiológico” como forma de mascarar a incompetência e a vilania. Sem esquecer é claro o protagonismo dos empresários.
Como os tempos seguem-se e parafraseiam-se, os dissidentes da situação (governo), cheios de subterfúgios e de proventos endossarão mais uma vez um discurso que já se tornou lugar comum. Uma amálgama de vitimismo com simulacro de justiça. No outro polo, pretensos grupos que vierem a ocupar o quadro governista depois da cisão, serão considerados mercenários e parasitas. Os munícipes usando a leniência como anestésico, continuarão reverberando um velho aforisma latino que diz; o que eu esqueço ou ignoro não existe para mim.