Com Maduro na mira, bolivarianismo caminha para fim melancólico na região
CARACAS – Milhares de manifestantes protestaram na Venezuela para tentar forçar o presidente socialista Nicolás Maduro a deixar o poder enquanto crescem as tensões entre a Rússia e os Estados Unidos sobre o impasse político no país membro da Opep.
O líder opositor Juan Guaidó pediu “a maior marcha” da história da Venezuela e havia na véspera pedido que os militares o apoiassem.
“Se o regime pensou que havíamos chegado à pressão máxima, eles não podem nem imaginar”, disse Guaidó a milhares de apoiadores em Caracas. “Precisamos continuar nas ruas”.
Guaidó – que dirige a Assembleia Nacional, liderada pela oposição – é reconhecido como presidente legítimo da Venezuela pelos Estados Unidos, União Europeia e Brasil, entre outros, mas Maduro é apoiado por Rússia, China e Cuba.
“Ações militares são possíveis. Se for necessário, é isso que os Estados Unidos irão fazer”, disse o Secretário de Estado, Mike Pompeo, na Fox Business Network.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse a Pompeo por telefone nesta quarta-feira que mais “passos agressivos” na Venezuela podem resultar em graves consequências.
Apoio do PT a ditadura de Maduro
O Partido dos Trabalhadores sustenta em nota oficial que não há uma ditadura na Venezuela. Os blindados que atropelaram manifestantes nas ruas de Caracas diz ser fruto de um complô de cenas irreais.
A cúpula militar que segura Maduro no poder para salvar seus privilégios talvez seja fruto de alucinação coletiva.
Para o PT, os golpistas “tentam há anos derrubar o governo democraticamente eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela”, a legenda de Maduro.
A certa altura, a nota do PT faz uma concessão à realidade, admitindo a existência de “problemas” na Venezuela.
Maduro foi reeleito em 2018 numa votação contestada e tisnada pelas fraudes. O pleito foi antecipado e os principais opositores do regime foram acomodados na cadeia. Diante dessa conjuntura, o PT precisa definir o que entende por “vontade popular”. Refere-se aos anseios das urnas fraudadas ou ao desejo das ruas sublevadas e das legiões que fogem do inferno e buscam refúgio em países vizinhos?
Sem rumo, com seu principal líder na cadeia e com um inimigo no Planalto, o PT enfiou-se em algo muito parecido com um buraco. Mas a nota sobre a Venezuela revela a existência de um plano secreto do petismo: a organização do próprio funeral.
Assinam a nota do PT quatro coveiros: a presidente Gleisi Hoffmann; os líderes Humberto Costa (Senado) e Paulo Pimenta (Câmara) e a secretária de Relações Internacionais Mônica Valente.
Maduro caminha para fim melancólico na região
O bolivarianismo é uma ideologia política baseada principalmente no discurso anti-imperialista, na busca da união dos países sul-americanos e de um programa de fundo marxista que buscava o que se chamava de “socialismo do século XXI”.
A reunião em Los Cardales era para dar posse ao primeiro secretário-geral da Unasul, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, ele também um dos pioneiros no movimento de esquerda que tomou a região entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000.

Dos dez maiores países da América do Sul, apenas a Colômbia, com Álvaro Uribe, e o Chile, com Sebástian Piñera (que havia acabado de suceder à também esquerdista Michelle Bachelet), eram dirigidos por um presidente de outro espectro político – ambos eram considerados neoliberais e alinhados aos interesses dos Estados Unidos na região.
Na foto abaixo, estão o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o paraguaio Fernando Lugo, o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa, a argentina Cristina Kirchner (que sucedeu o marido, Néstor) e o uruguaio José Mujica.
A situação política da América do Sul, no entanto, mudou radicalmente nos últimos anos, tanto que, em abril deste ano, os novos governantes de direita na região (Jair Bolsonaro, entre eles), enterram a Unasul, considerada de viés esquerdista, e a substituíram pela Prosul.
O fato é que, da derrocada petista no Brasil – com a cassação de Dilma Rousseff e a prisão de Lula – à ofensiva liderada atualmente pela oposição na Venezuela ao sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, a esquerda retrocedeu na região.
Hoje, além da Venezuela, apenas a Bolívia – com o longevo Evo Morales, presidente do país desde 2006 – e o Uruguai, com a volta de Tabaré Vázquez ao poder (após cinco anos de José Mujica), ostentam presidentes mais alinhados à esquerda e ao discurso bolivariano. Não à toa, só Uruguai e Bolívia, entre os dez maiores países da região, não reconheceram Juan Guaidó como presidente constitucional da Venezuela.