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Brasil Fragilidade

Lula enfrenta maior crise de popularidade e pode ter saldo negativo pela primeira vez

Inflação, crise econômica e oposição forte minam aprovação do governo

05/03/2025 07h41 Atualizada há 3 semanas
Por: Redação
Lula enfrenta maior crise de popularidade e pode ter saldo negativo pela primeira vez

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atravessa seu pior momento de popularidade desde o escândalo do Mensalão, em 2005. Com o aumento da desaprovação e sinais claros de insatisfação popular, o petista pode encerrar 2025 com um saldo anual negativo na avaliação de seu governo – algo inédito em seus três mandatos.

Pesquisas recentes apontam que o desgaste da gestão tem se acentuado, especialmente entre os mais pobres, segmento que historicamente garantiu a força eleitoral de Lula. A principal causa apontada para essa queda é o alto custo dos alimentos, que enfraquece o poder de compra e anula qualquer avanço nos números macroeconômicos. Em paralelo, crises pontuais, como a do Pix, demonstram a dificuldade do governo em administrar desgastes e conter o crescimento da oposição.

A polarização e a perda de apoio inicial

Analistas políticos indicam que a popularidade de Lula tem oscilado dentro de uma margem reduzida. O eleitorado, antes mais “plástico” e aberto a mudanças de opinião, agora se encontra polarizado, reduzindo a capacidade do governo de recuperar apoio entre os que não votaram no petista. Esse fenômeno foi evidenciado na eleição de 2022, quando Lula venceu por uma das menores margens da história – apenas 1,8 ponto percentual sobre Jair Bolsonaro (PL).

O cientista político Antonio Lavareda destaca que, em tempos passados, era comum que um presidente começasse o mandato com a boa vontade de parte do eleitorado adversário. Hoje, essa tendência desapareceu, deixando o governo preso a um nicho de apoiadores, sem margem de crescimento.

Os sinais de alerta para o governo

Os números não deixam dúvidas sobre o enfraquecimento da popularidade do presidente. Em 2023, Lula chegou a ter 60% de aprovação na Quaest, mas em 2024 viu esse índice despencar. A última pesquisa apontou um cenário inédito: 49% de desaprovação contra 47% de aprovação, o primeiro resultado negativo desde o início do atual governo.

O Datafolha também registrou uma queda acentuada na avaliação positiva do governo. Entre dezembro e fevereiro, o percentual de entrevistados que consideram a gestão “ótima ou boa” caiu de 35% para 24%, uma perda de 11 pontos em apenas dois meses.

O histórico mostra que, mesmo nos piores momentos, Lula sempre conseguiu manter um saldo de aprovação positivo. O governo já enfrentou crises sérias, como o Mensalão, mas soube recuperar a imagem com políticas populares e o crescimento da economia global. Agora, o cenário é diferente: a inflação dos alimentos corrói o poder de compra, o dólar alto impacta preços e a oposição mantém um discurso permanente de desgaste.

Governo fragilizado, oposição fortalecida

Outro fator que agrava a crise de Lula é a força da oposição na disputa de narrativas. O cientista político Josué Medeiros, da UFRJ, aponta que o governo tem dificuldades em capitalizar avanços econômicos, como o aumento de 9,3% na renda per capita domiciliar. Em contraste, a direita e a extrema direita dominam o debate público, ampliando o desgaste da gestão petista.

Além disso, há entre aliados de Lula a percepção de que o impacto da inflação sobre os alimentos neutraliza qualquer ganho na renda. O raciocínio é simples: se o governo “dá com uma mão e tira com a outra”, a população sente que não há melhoria real. Essa dinâmica já foi observada em governos anteriores, como o de José Sarney, quando o crescimento do PIB foi ofuscado pela hiperinflação.

O que esperar para 2025?

Para evitar um saldo anual negativo na popularidade – o que seria um duro golpe político –, o governo aposta na recuperação econômica, impulsionada por uma safra recorde e uma possível estabilização cambial. No entanto, a margem para erros é pequena. A tendência de polarização endurece as posições do eleitorado e dificulta uma recuperação rápida.

Se Lula não reverter esse cenário, entrará em 2026 enfraquecido e vulnerável a um embate eleitoral altamente competitivo. A oposição, por sua vez, ganha força e espaço para consolidar um discurso alternativo para os próximos anos. O Brasil, mais uma vez, se vê diante de um cenário político instável e imprevisível.

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