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Sociedade Absurdo

Deputado quer lei para multar quem levar bebês reborn para ‘receber atendimento’ em hospitais

Projeto quer proibir bebês reborn em hospitais e gera polêmica em Minas

15/05/2025 17h34
Por: Redação
Deputado quer lei para multar quem levar bebês reborn para ‘receber atendimento’ em hospitais

O deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) protocolou, nesta semana (14/5), um projeto de lei que visa impedir que donos de bonecas do tipo reborn levem esses objetos a unidades de saúde públicas ou privadas de Minas Gerais. A proposta, que prevê multa de dez vezes o valor do serviço utilizado em caso de descumprimento, reacende o debate sobre saúde mental, uso de recursos públicos e os limites do comportamento individual na esfera coletiva.

O PL surge após um caso que ganhou repercussão nas redes sociais: uma jovem de 17 anos levou seu bebê reborn — boneca hiper-realista que imita recém-nascidos — a um hospital alegando que ele estaria com febre. No vídeo, ela se mostra aflita, prepara a bolsa do “filho” e registra a visita à unidade de saúde, onde o boneco é colocado na balança para ser “pesado”.

Caporezzo, ao justificar o projeto, afirmou que “os devaneios da sociedade contemporânea colocam em perigo todo o povo de Minas Gerais em decorrência da distopia generalizada que as bonecas reborn estão causando”. O parlamentar vai além, citando disputas judiciais envolvendo a “guarda” desses brinquedos e comparando o episódio ao que chama de perda de referência da realidade. “Como se um homem pudesse se transformar em um cachorro e ser tratado como tal sem que antes vá para um hospício”, escreveu.

A proposta legislativa define claramente que objetos inanimados — “aqueles que não têm ou nunca tiveram vida” — não devem ocupar a estrutura pública de atendimento em saúde. A multa arrecadada, segundo o texto, seria destinada ao tratamento de pessoas com transtornos mentais.

Opinião: uma reação extrema a um sintoma social

O projeto de Caporezzo é, sem dúvida, provocativo — e talvez deliberadamente polêmico. Embora a utilização de serviços públicos para atender bonecas seja, no mínimo, questionável, o tom da proposta e as declarações do deputado escorregam para o campo da ridicularização, o que enfraquece um debate que poderia ser conduzido com mais seriedade.

A febre dos bebês reborn pode até parecer um fenômeno excêntrico, mas está longe de ser apenas uma “loucura contemporânea”. Para muitos, o apego a essas bonecas é expressão de traumas, perdas ou mesmo de estratégias de enfrentamento emocional. Ignorar esse aspecto pode significar fechar os olhos para realidades que exigem escuta e, em alguns casos, acolhimento terapêutico — não escárnio.

Se é legítimo discutir o uso racional dos recursos do SUS, também é fundamental não patologizar comportamentos sem o devido respaldo técnico. Quando o poder público transforma anedotas em leis, corre-se o risco de legislar a partir do preconceito, e não da política pública.

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