A frase dita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet — “fiz uma cagada” —, não é só um descuido técnico. É um retrato fiel da desordem institucional que tomou conta do Supremo Tribunal Federal (STF) desde que a Corte assumiu protagonismo político na apuração das manide 8 de janeiro de 2023.
O comentário foi captado ao vivo durante audiência nesta sexta-feira (23), enquanto Gonet ajustava uma pergunta direcionada ao ex-ministro Aldo Rebelo, testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier. A questão, sobre uma possível atuação isolada da Marinha em um golpe de Estado, já havia sido feita pela defesa e vetada pelo ministro Alexandre de Moraes. Quando partiu do procurador-geral, a mesma pergunta foi inicialmente aceita, revelando dois pesos e duas medidas.
A tentativa de correção por parte de Moraes, solicitando “maior objetividade”, não foi suficiente para apagar a evidência de que há uma condução enviesada no processo. O STF, especialmente sob a relatoria de Moraes, não tem agido como instância de equilíbrio e justiça, mas como ator político, escolhendo quem pode ou não falar, quais perguntas são válidas e quais opiniões devem ser silenciadas.
O episódio da audiência de Garnier expôs, mais uma vez, o ambiente de parcialidade que permeia os inquéritos sobre o 8 de janeiro. A Corte transformou o plenário em arena inquisitorial, na qual o devido processo legal é frequentemente atropelado por decisões unilaterais, interrupções seletivas e censura disfarçada de moderação.
A fala de Gonet, embora informal, é simbólica. Revela um procurador acuado, consciente do erro, mas também do cerco judicial em que se encontra. Não se trata de uma simples “gafe” — trata-se do esgotamento de um sistema de justiça que já não finge neutralidade. Quando a defesa é calada e a acusação é tolerada, o julgamento deixa de ser técnico e se torna político.
A gravidade da situação exige mais do que explicações sobre microfones ligados ou perguntas mal formuladas. Exige transparência, imparcialidade e, sobretudo, respeito às garantias legais. O que está em jogo não é apenas a responsabilização de envolvidos nas manifestações do 8 de janeiro, mas a integridade do próprio Estado de Direito.
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