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Mapa da fé: o novo campo de batalha eleitoral no Brasil

Crescimento evangélico, avanço dos sem religião e recuo católico revelam mudanças estratégicas no jogo político de 2026

10/06/2025 20h40
Por: Redação
Mapa da fé: o novo campo de batalha eleitoral no Brasil

A reorganização religiosa no Brasil, revelada pelos dados do Censo 2022, não se limita à fé pessoal. O levantamento do IBGE escancara a transformação de um cenário onde igrejas se consolidam como estruturas de poder político, com capilaridade e influência comunitária que desafiam partidos tradicionais.

O avanço dos evangélicos e o recuo dos católicos redesenham o mapa da fé no País. Mais do que estatística, trata-se de um mapa de influência. Para o pastor e escritor Rodolfo Capler, os dados funcionam como um termômetro social com desdobramentos políticos claros: “A presença evangélica, espalhada por todas as regiões e classes sociais, indica um potencial de mobilização que vai muito além do número absoluto”.

A leitura é reforçada por Rafael Leão, especialista em marketing político. Para ele, o censo se torna ferramenta estratégica: “Os evangélicos têm demonstrado alto grau de engajamento político. Os partidos já sabem onde estão e como falar com eles. O discurso está em adaptação”.

Capler ressalta ainda a complexidade da estrutura evangélica. Segundo ele, lideranças religiosas exercem funções que vão além da fé: “São figuras com papel paraeclesiástico e até paraestatal. Mesmo sem saber o voto final, sabemos que sua identidade religiosa será decisiva”.

Para o cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Parlamentar, a força político-eleitoral desse grupo já é uma realidade consolidada. “Quem ignora essa base corre risco. É um eleitorado com pautas, interlocutores e musculatura própria. Não se trata apenas de números, mas de poder”.

Apesar da expansão, o crescimento evangélico veio abaixo das projeções. Capler vê nisso um ponto de equilíbrio. “Evita-se uma hegemonia absoluta e o risco de misturar fé com projeto de poder. Para certos setores da política que viam nas igrejas uma máquina de votos, o freio pode ser um sinal de alerta.”

Outro grupo que ganha tração é o dos sem religião. Não são, em sua maioria, ateus. Capler explica: “São jovens, urbanos, conectados a pautas como diversidade e liberdade individual. Eles exigem reposicionamento no discurso político, sobretudo quanto à laicidade do Estado”.

A tendência se desenha: a religião continua como vetor central da política brasileira, mas com novos contornos. Em 2026, quem quiser vencer nas urnas terá de entender que fé, poder e discurso público estão mais entrelaçados — e mais vigiados — do que nunca.

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