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Onde está o Líder Supremo? Silêncio de Khamenei alarma o Irã

Em meio a bombardeios, cessar-fogo e tensões internas, a ausência do aiatolá Ali Khamenei acende alertas em Teerã e reforça rumores de instabilidade no alto escalão do regime iraniano.

26/06/2025 às 07h28 Atualizada em 26/06/2025 às 07h34
Por: Redação
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Onde está o Líder Supremo? Silêncio de Khamenei alarma o Irã

A pergunta ecoa dos estúdios da TV estatal aos bastidores do poder em Teerã: onde está Ali Khamenei? O líder supremo do Irã, figura central do regime teocrático, não é visto em público há quase uma semana — um vácuo que, em tempos normais, já seria inusitado. Em meio à maior crise geopolítica enfrentada pelo país nos últimos anos, a ausência tornou-se explosiva.

Durante transmissão ao vivo nesta terça-feira (24), um apresentador da emissora estatal expôs a inquietação generalizada: “As pessoas estão muito preocupadas com o líder supremo”, disse, dirigindo-se a Mehdi Fazaeli, chefe do arquivo pessoal de Khamenei. “Você pode nos dizer como ele está?”

A resposta foi evasiva. Fazaeli limitou-se a dizer que também recebeu “inúmeras consultas” e que “os responsáveis por proteger o líder estão cumprindo seu trabalho”. Mais nenhuma palavra. Nem uma imagem. Nem uma gravação. Nem sequer um comunicado assinado.

Um silêncio que fala alto

O vazio deixado pela ausência do aiatolá não se limita ao simbolismo. Em questão estão decisões estratégicas, como a resposta militar ao recente bombardeio americano a instalações nucleares iranianas — três, ao todo — e a retaliação de Teerã, que incluiu mísseis balísticos lançados contra uma base dos EUA no Catar.

Mesmo o cessar-fogo com Israel, mediado pelo emir do Catar a pedido de Donald Trump, levanta dúvidas: foi autorizado por Khamenei ou conduzido sem sua chancela direta? Autoridades do regime, pressionadas, evitam responder se falaram com o líder nos últimos dias.

Analistas e fontes com acesso ao alto escalão apontam que o aiatolá estaria abrigado em um bunker, isolado de qualquer comunicação eletrônica para escapar de possíveis atentados. A justificativa: riscos de assassinato por parte de Israel, mesmo durante o cessar-fogo.

Especulações em alta, confiança em baixa

A ausência do líder abalou não apenas a base religiosa e ideológica do regime, mas também a elite política. “Se Khamenei estivesse morto, seu funeral seria o mais grandioso da história iraniana”, disse Mohsen Khalifeh, editor-chefe do jornal Khaneman, algo impensável de ser dito em voz alta semanas atrás.

Para muitos iranianos, ver o líder em público — especialmente após ataques que mataram mais de 600 pessoas — é uma necessidade emocional e simbólica. Há quem diga: não haverá verdadeira vitória contra Israel enquanto Khamenei não reaparecer.

O analista político Hamzeh Safavi, filho do influente general Yahya Safavi, confirmou que há preocupação com atentados e que o esquema de segurança foi radicalmente reforçado. Ainda assim, afirmou que Khamenei estaria “orientando remotamente” as decisões-chave.

Vácuo de poder?

Quatro altos funcionários do regime revelaram que, sem a presença clara de Khamenei, diferentes facções políticas e militares disputam influência. Ganha força o grupo liderado pelo presidente Masoud Pezeshkian, que defende moderação e abertura ao diálogo com os EUA.

Pezeshkian é apoiado por nomes estratégicos como o chefe do Judiciário, Gholam-Hossein Mohseni-Ejei, e o novo comandante das Forças Armadas, general Abdolrahim Mousavi — ambos próximos ao aiatolá, mas aparentemente confortáveis em assumir protagonismo temporário.

Enquanto isso, o Irã tenta mobilizar o patriotismo. A Orquestra Sinfônica Nacional fez um concerto na Praça Azadi, em Teerã, com projeções de imagens de vítimas e socorristas. Emoção popular em alta, mas nenhuma palavra do líder supremo.

O que virá?

No curto prazo, a ausência de Khamenei pressiona o regime a acelerar uma transição de poder ou, ao menos, institucionalizar mecanismos de decisão coletiva. A médio prazo, a especulação sobre seu estado de saúde ou até sua morte — ainda sem confirmação — pode desencadear uma disputa de sucessão de proporções históricas.

Sanam Vakil, diretora do Chatham House para Oriente Médio e Norte da África, foi direta: “Se não vermos Khamenei até a Ashura [em julho], será um mau sinal. Ele precisa mostrar sua face.”

Enquanto isso, o Irã inteiro — dos templos xiitas às cúpulas militares — segura a respiração. E espera.

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