O Palácio do Planalto será palco, entre esta segunda (30.jun) e terça-feira (1º.jul), da apresentação do Plano Safra 2025/2026. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado dos ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), revelará os recursos destinados à agricultura familiar e ao agronegócio empresarial. A expectativa, já antecipada nos bastidores, é de um novo recorde de crédito rural, com volume superior a R$ 500 bilhões — mais do que os R$ 476 bilhões corrigidos pela inflação do ciclo anterior.
O volume pode impressionar, mas há um porém: o custo do dinheiro está mais salgado. Com a Selic estacionada em 15%, os juros de quase todas as modalidades do crédito rural serão maiores que os praticados no biênio anterior. A definição das taxas exatas ainda não foi detalhada, mas interlocutores do governo admitem que o financiamento sairá mais caro em praticamente todas as faixas.
Diferente dos tempos passados, quando Lula apresentava os números do plano de fomento de uma só vez, o formato atual divide os anúncios por público. Nesta segunda, o foco será o crédito voltado à agricultura familiar, via Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Na terça, será a vez da agricultura empresarial, que concentra a maior parte dos recursos.
No último plano, referente ao biênio 2024/25, a agricultura familiar recebeu R$ 76 bilhões (R$ 80 bilhões corrigidos), enquanto o agronegócio empresarial contou com R$ 400,59 bilhões — o que somava R$ 421,9 bilhões em valores atualizados. Agora, somados, os dois segmentos ultrapassarão a barreira simbólica dos R$ 500 bilhões.
Apesar do avanço no volume, os produtores rurais devem encontrar menos alívio no custo do crédito. No biênio anterior, os juros iam de 6% a 12% ao ano nas modalidades prefixadas mais comuns. Já neste ano, com o Banco Central mantendo uma política monetária mais apertada, quase todas as faixas devem apresentar aumentos.
A exceção, como de costume, pode ficar por conta dos pequenos produtores atendidos pelo Pronaf, cujas taxas tendem a ser mais amenas. Mesmo assim, o cenário geral indica um financiamento menos acessível — sobretudo para médios e grandes empreendedores rurais, que recorrem a linhas com juros de mercado ou flutuantes.
Há ainda espaço para financiamentos com taxas livres, negociadas diretamente entre instituições financeiras e produtores. Mas mesmo nesse campo, o ambiente de juros altos não favorece negociações suaves.
Lula deverá repetir no discurso oficial o tom adotado em eventos recentes, como a Farm Show, onde exaltou os planos safras lançados por seus governos. Em sua fala no evento, chegou a cometer um deslize histórico: afirmou que, em seus primeiros mandatos, empresários do agro financiavam máquinas a juro zero — o que nunca foi exatamente o caso.
Ainda assim, o Planalto aposta na simbologia do recorde para dialogar com o setor, mesmo que o clima no campo seja de cautela. O volume maior de crédito pode ser visto como um gesto político, mas a resposta prática dependerá do acesso real aos recursos e, principalmente, do custo desse dinheiro.
O Planalto sabe que entregar números robustos é um ativo político, mas não ignora que o ambiente de juros altos impõe um desafio extra à execução do plano.
Com a eleição municipal à vista e o agronegócio ainda em clima de desconfiança com o governo petista, o anúncio do Plano Safra pode ter mais impacto simbólico que prático. O volume recorde de crédito tem potencial para gerar manchetes — e será usado por Lula como prova de apoio ao setor —, mas os juros elevados podem neutralizar parte do efeito.
Resta saber se, na prática, o produtor vai conseguir transformar esse plano bilionário em investimento de verdade — ou se, como tem acontecido nos últimos anos, parte significativa dos recursos ficará no papel.
Mín. 22° Máx. 30°