O Palácio do Planalto intensificou sua estratégia de comunicação para emplacar a narrativa de que a resistência à reforma tributária parte de um grupo ínfimo, mas poderoso. Na mira, os chamados “BBBs”: bilionários, bancos e casas de apostas. A nova etapa da ofensiva mira a classe média como aliada crucial para isolar essa elite econômica.
A ordem partiu diretamente do presidente Lula, que determinou ao núcleo de comunicação do PT e à equipe de redes do governo que reforcem, por meio de vídeos e postagens, a ideia de que 99% da população está pagando a conta para que o 1% mais rico continue intocado.
Os vídeos, em circulação desde o fim de semana nas redes do partido e de figuras da base governista, tentam demonstrar, com gráficos e linguagem popular, que os super-ricos e grandes instituições financeiras se beneficiam de brechas e isenções, enquanto trabalhadores e pequenos empresários arcam com a maior carga tributária proporcional.
“O objetivo agora é mostrar que não se trata de uma briga entre governo e empresários, mas entre a maioria da população e uma minoria que quer manter privilégios”, disse a O Antagonista um assessor próximo a Lula, sob reserva. “Os bancos estão chiando porque vão perder uma parte dos seus lucros líquidos isentos. E as bets porque finalmente serão tributadas. Isso é justiça fiscal.”
A decisão de incluir a classe média no discurso não é casual. O Planalto avalia que a resistência ao imposto sobre consumo, um dos pontos centrais da reforma, cresceu entre profissionais liberais e pequenos empreendedores, após campanhas intensas de desinformação patrocinadas por entidades empresariais e canais liberais nas redes sociais.
Para contornar essa resistência, a comunicação do PT tem apostado em um discurso de partilha justa da conta pública. A retórica é simples: quem ganha muito, paga proporcionalmente mais. E quem lucra sem produzir — como é o caso das bets e de alguns fundos bilionários — passaria a contribuir com o bolo tributário.
A ofensiva também é vista como uma forma de pressionar parlamentares que resistem a votar a favor da reforma, temendo retaliações de seus financiadores de campanha. “Quem votar contra vai ter que explicar ao eleitor por que preferiu defender banqueiro”, resumiu um líder do governo no Congresso.
Apesar do tom assertivo, dentro do próprio PT há preocupação com a polarização do discurso. Integrantes da equipe econômica defendem moderação para evitar fuga de capitais e turbulência no mercado financeiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem equilibrado os discursos, reafirmando que a reforma busca simplificação e justiça tributária, sem demonizar setores.
Nos bastidores, o governo admite que a batalha da comunicação é tão importante quanto a articulação no Congresso. E que, sem apoio popular, qualquer reforma tende a ser desidratada. A aposta no “99% contra 1%” busca, mais do que convencer, criar uma dicotomia emocional: ou se está do lado do povo, ou dos privilégios.
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