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Críticas de Campos Neto expõem riscos da agenda econômica do governo Lula III

Campos Neto critica a obsessão por igualdade no governo Lula III, alertando para dívida, informalidade e baixa produtividade futura.

06/07/2025 às 17h43
Por: Redação
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Críticas de Campos Neto expõem riscos da agenda econômica do governo Lula III

Análise Crítica: Campos Neto alerta para armadilhas do modelo lulista

A entrevista concedida por Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central (BC), à Folha de S.Paulo, transcende o campo das declarações técnicas para adentrar uma crítica estruturada à espinha dorsal do atual projeto econômico e social do governo Lula III. Com uma argumentação pautada em dados e lógica de mercado, Campos Neto desmonta — sem rodeios — o que considera ser uma ilusão de justiça social baseada em expansão fiscal e assistencialismo crônico.

Igualdade como ideologia e não como solução

O ponto central de sua análise recai sobre o que chama de “obsessão com a igualdade”, uma característica que, segundo ele, desvia o foco da verdadeira missão do Estado: a redução da pobreza e o estímulo à mobilidade social. Ao tentar impor uma igualdade artificial, sustentada por impostos elevados e endividamento crescente, o governo acaba paralisando o investimento privado, gerando efeitos colaterais como inflação estrutural, juros elevados e produtividade em queda.

Nesse sentido, a crítica de Campos Neto ganha força por ser fundamentada não apenas em teoria econômica, mas em uma trajetória à frente do BC em momentos de crise e retomada. Sua leitura aponta que as intervenções públicas, longe de corrigirem distorções, acabam aprofundando desequilíbrios.

O risco da informalidade alimentada por políticas mal calibradas

Outro aspecto sensível abordado na entrevista é a possível contribuição do Bolsa Família para o aumento da informalidade no mercado de trabalho. Campos Neto evita deslegitimar o programa, mas questiona sua eficácia em determinadas regiões, onde o número de beneficiários supera o de trabalhadores com carteira assinada. Trata-se de um alerta incômodo, porém necessário, diante da realidade de 12 Estados com mais dependentes do programa do que empregados formais — dado revelado pelo Poder360.

O silêncio forçado sobre esse tipo de crítica, especialmente quando parte do setor empresarial, também é destacado pelo economista. O ambiente hostil à divergência é um sinal preocupante para a saúde do debate democrático e para o aperfeiçoamento de políticas públicas.

A conta que chega amanhã

Campos Neto denuncia uma estratégia perigosa: estimular a demanda no curto prazo com transferências de renda enquanto sacrifica os pilares que sustentam o crescimento de longo prazo. Essa escolha, segundo ele, cria um ciclo vicioso que culmina em um Estado hipertrofiado, sufocado por sua própria estrutura, e em um setor privado sem margem para investir ou inovar.

É nesse ponto que sua crítica se transforma em um chamado à responsabilidade fiscal e à racionalidade política. Para ele, insistir em um modelo onde a intervenção pública tenta compensar distorções do mercado é uma aposta fadada ao fracasso — o “jogo acaba”, como diz, quando a injeção de recursos públicos deixa de produzir qualquer retorno social relevante.

Conclusão: o debate necessário que o Planalto evita

As declarações de Roberto Campos Neto não são apenas opiniões técnicas, mas uma convocação ao debate sério sobre os rumos do país. Num momento em que o governo Lula III parece dobrar a aposta em políticas de redistribuição sem lastro em produtividade, as advertências do ex-presidente do BC funcionam como contraponto necessário.

Ignorá-las, ou desqualificá-las como oposição ideológica, é optar por um caminho onde os efeitos colaterais — dívida, informalidade e estagnação — podem se tornar permanentes. Ao contrário do que sugere a retórica governista, nem toda crítica é sinônimo de desumanidade. Às vezes, é justamente ela que antecipa a tragédia que o discurso populista insiste em mascarar.

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